terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Quando Nietzsche chorou

Livro: Quando Nietzsche chorou, Irvin D. Yalom
Ediouro, 1995, 407 páginas.



Filosofia e psicanálise são sem sombra de dúvida, dois temas com muito em comum. A obra de Irvin D. Yalom consegue mesclar esses dois mundos complexos sem cair na fórmula batida da autoajuda, para tristezas do xiitas comedores de batatas que sem ler p*$% nenhuma ficam taxando tudo quanto é livro assim. O livro tem frases marcantes,"Quem não é capaz de obdecer a si, é regido pelos outros"(Nietzche pag 241"). O que me deixou arrependido de nao tê-las anotado desde o ínicio,creio que vou acabar lendo novamente. A filosofia do Nietzche é muito rica, para mim se sobressaindo ao enredo do livro(nada contra, o enredo é bom, jaja faço um resumo). Fiquei muito tentado a conhecer um pouco mais dos postulados dele, foi o primeiro cético que não me irritou por ser tão radical.
Usando como plano de fundo a Viena do final do século XIX, o livro conta-nos sobre uma psicoterapia fictícia que teria envolvido dois personagens históricos que, na realidade, jamais se encontraram: o médico Josef Breuer e o filósofo Friedrich Nietzche.
Breuer é um médico Vienense bem sucedido. Apesar de ser de ascendência judaica, e de praticar alguns preceitos religiosos de forma mecânica, é um ateu convicto que se sente preso a uma vida que sente não ter escolhido. Está casado com uma mulher bonita, e têm filhos, mas sente-se só e numa vida sem sentido. Uma paixão com uma de suas pacientes, Bertha, que sofria de problemas mentais graves, levou a sua mulher a exigir-lhe que a enviasse para outro médico. No entanto, Breuer nunca conseguiu afastar da sua mente Bertha, passando os dias a pensar nela. Até que em Veneza lhe aparece Lou Salomé, uma mulher russa, que lhe pede para tratar de um problema de enxaquecas constantes que um amigo seu sofre, e que está no limiar do suicídio.
Esse amigo de Lou Salomé é um filósofo alemão praticamente desconhecido das pessoas da época, Friedrich Nietzsche. Mais do que ateu, Nietzsche é um dos pais do Nihilismo, defendo que Deus foi algo criado pelo homem, e entretanto morto pelo mesmo homem. Apesar de já ter várias obras publicadas, estas são conhecidas apenas por um punhado de pessoas. Ele mesmo afirma que o seu primeiro discípulo está ainda por nascer, acreditando que um dia os seus pensamentos serão lidos, conhecidos e respeitados, mas que não estará já vivo para assistir. Sentindo-se traído pelo seu corpo que não lhe dá descanso, pelos amigos que não acredita ter e pela mulher que não o ama, vive como um saltimbanco solitário. O seu orgulho é a única coisa que o motiva ainda a viver, tentando passar para o papel todos os seus pensamentos para futuras gerações.
Ao longo de todo o livro, o leitor é levado a tentar perceber a maneira de pensar destas grandes mentes enquanto também eles o fazem entre si. Ao longo das séries de conversas, somos convidados a fazer as perguntas que Breuer e Nietzsche colocam um ao outro, a nós mesmos. Juntos, esses dois homens combatem inimigos, que no fundo são velhos conhecidos de todos nós: o desespero, a solidão interior, a obsessão amorosa e sexual, a morte e o sentido da vida. Estas conversas podem ser encaradas quase como precursoras da Psicologia e Psicanálise, juntando a tudo isto um personagem que aprece na trama diversas vezes como um para aconselhar Breuer, o seu discípulo Sigmund Freud.
É uma leitura indispensável para todos que se interessam por filosofia, psicanálise ou apenas por um ótimo e cativante romance.

Nota1: A fonte das batatas nao secou, estive sem net semana passada.

nota2: Estou repassando A Cabana para o mês de fevereiro, Quando Nietzsche chorou é um livro de base nhilista e A Cabana é deísta. Não posso passar pro outro lado do muro tão rápido. O último livro do mês de Janeiro será a A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafón.


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