sexta-feira, 27 de março de 2009

O Jogo do Anjo


Livro: O Jogo do Anjo, Carlos Ruiz Zafón,
Suma de Letras, 410 páginas.



Tive e continuo tendo medo de ser injusto com O jogo do anjo, a espectativa que eu tinha em torno dele era ENORME. Afinal,o Zafón tinha sido único em seu último livro. O ínicio me empolgou bastante, o enredo inclusive mais atraente do que a Sombra do Vento, porém do meio pro final achei que ele se perdeu em meio a intertextualidade que ele queria fazer com sua obra anterior e nos detalhes que rodeavam a história, ficaram faltando várias arestas a serem aparadas. Apesar disso, o fim enigmático me intrigou bastante e o livro possui um dos personagens mais bem escritos que já conheci. O Andreas Corelli é a graça do romance(o David um protagonista insosso), li algumas interpretações e muitas indicam que ele é o próprio Lúcifer, embora para mim isso não tenha ficado claro. O fato é que a atmosfera sombria atrelada a lucidez de suas falas fazem você temê-lo e ao mesmo tempo admirá-lo.(Não comedor, não sou adorador do Demo heehe, mas quem leu sabe bem do que estou falando). Outra coisa legal é que você fica por dentro de alguns pormenores interessantes sobre a família Sempere e sua fascinante livraria, tão conhecida pelos fãs da Sombra do Vento. Segue pequeno resumo do enredo:
David Martín é precisamente a personagem principal desta narrativa. Começou a trabalhar muito cedo no jornal La Voz de la Industria após a morte do pai e depressa chegou a colunista do mesmo. Sob o pseudónimo Ignatius B. Samson escreve "A Cidade dos Malditos" e em nome próprio "Os Passos do Céu". Depois de escritas essas obras, surge na trama a figura misteriosa de Andreas Correlli que lhe paga uma avultada soma de dinheiro para escrever um livro para ele. É a partir desse momento que começam a surgir uma série de acontecimentos bizarros e inexplicáveis que fazem com que a história entre por caminhos que não estavam previstos.

Alguns trechos legais:


"- É da nossa natureza sobreviver. A fé é uma resposta instintiva a aspectos da existência que não podemos explicar de outro modo, seja o vazio moral que percebemos no universo, a certeza da morte, a própria origem das coisas, o sentido da nossa vida ou a ausência dele. São aspectos elementares e de extrema simplicidade, mas as nossas limitações impedem-nos de responder de modo inequívoco a essas perguntas e por isso geramos, como defesa, uma resposta emocional. É simples e pura biologia." Corelli

"A pessos que a gente pensa que vê nada mais é que um personagem oco, a verdade se esconde sempre na ficção" -David

"O sr. Sempere acreditava que todos fazíamos parte de algo e que ao deixar esse mundo, nossas lembranças e nossos desejos não se perdiam, mas passavam a ser lembranças e desejos de quem viesse a ocupar nosso lugar"

"Enquanto restar uma só pessoa no mundo capaz de lê-los e vivê-los, haverá um pedaço de Deus ou de vida"

"Quando nos sentimos ameaçados, a inveja, a cobiça ou o ressentimento que nos movem se tornam santificados, pois nos convencemos de estar agindo em defesa própria..." -Corelli



"E A inveja é a religião dos medíocres. Ela os reconforta, responde às angústias que os devoram por dentro. Em última análise, apodrece suas almas, permitindo que justifiquem sua própia mesquinhez e cobiça, até o ponto de pensarem que são virtudes e que as portas do céus e abrirão para os infelizes como eles que passam pela vida sem deixar outro rastro senão suas toscas tentativas de depreciar os demais, de excluir e se possivel, destruir quem, pelo mero fato de existir, coloca em evidência sua pobreza de espírito, de mente e de valores. Bem-aventurado aquele para quem os cretinos ladram, pois sua alma nunca lhes pertencerá."

"Um intelectual é alguém que, de hábito, não se distingue exatamente por seu intelecto - sentenciou Corelli. - Atribui tal qualitativo a si mesmo para compensar a impotência natural que intui em suas capacidade. É aquele e certissímo ditado: Diga-me do que se vangloria e eu lhe direi do que careces. É o pão de cada dia. O incopetente sempre se apresenta como capaz. O cruel, como piedoso. O pecador como santo. O avarento, como generoso. O mesquinho, como patriota. O arrogante, como humilde. O vulgar, como elegante. E o tolo, como intelectual. Mais uma vez, tudo obra da natureza, que longe de ser a figura delicada que os poetas cantam é uma mãe cruel e voraz que se alimenta das criaturas que vai parindo para poder continuar viva." Andreas Corelli






2 comentários:

  1. como ainda estou lendo nao tenho opniao formada sobre o livro, mas por enquanto esta indo muito bem, apenas quando falar da livraria sempre fico me perguntando onde esta o outro personagem da Sombra do Vento que era o mendigo e tal lembra? acho que ele deveria ser mencionado ;x essa historia parece se passar depois do ocorrido com o filho de sempere. mas esta indo muito bem e nao da vontade de parar de ler.

    quantos as passagens tem varias muito boas :D
    lembra dessa?
    "A gente nao sabe o que eh sede ate beber pela primeira vez" acho que foi David

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  2. Caro Anônimo (não vou lhe identificar, para não desfazer a graça do jogo):

    Foi um prazer (mesmmo) visitar seu blog. Tenho visto muitos outros, mas o seu é daqueles poucos que atestam vida inteligente nesse universo de tanta coisa, por vezes, irrisória.
    Muito boa a ideia de comentar livros; precisamos de leitores que comentem com coração e cérebro a obra de autores renomados - para absolvê-los ou condená-los.

    Um abraço de

    Chico Viana.

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